50 anos do Tri: sob a ditadura dos "anos de chumbo", Brasil acumula vitórias e apresenta o futebol-arte


O ano era 1970, e o Brasil vivia um turbilhão de novas sensações. Eram os anos mais duros da Ditadura Militar - sob o comando do General Emílio Garrastazu Médici -, a seleção brasileira tentava o tricampeonato mundial no México, e a população começava a conviver com um novo aparelho em suas casas: a televisão. Hoje, 50 anos depois, a ditadura não existe mais, o Brasil é pentacampeão mundial, e a TV já é um aparelho mais que consolidado nas residências. Por isso, o Esporte Espetacular fez uma viagem no tempo para contar a história da terceira Copa do Mundo conquistada pela Seleção, no México, marcada pelo futebol-arte do time canarinho.

Jogadores perfilados para um dos jogos do Brasil no Mundial do México. — Foto: Gerência de memória/CBF

Em 1964, o Brasil sofreu um golpe militar. Seis anos depois, os brasileiros viviam os chamados anos de chumbo daquele regime. Em 1969, foi promulgado o Ato Institucional número 5, o AI-5, que contava com 12 artigos e trazia mudanças radicais para o país, como o fechamento do Congresso Nacional. O autoritarismo militar assustava a quem o enfrentava: muitos políticos, artistas e jornalistas foram torturados e mortos nos porões da ditadura. Muitos tiveram que se exilar em outros países para fugir da perseguição política.

Gil e Caetano conseguiram exílio na Inglaterra e acompanharam toda a Copa do Mundo de lá. Já Gabeira não teve tanta sorte e viu o começo daquela caminhada na prisão. Um outro músico que fez parte daquela conquista é marcado até hoje por ser simpatizante da Ditadura (o que nunca foi comprovado): Wilson Simonal.

Simonal era tão de casa que sofria com as brincadeiras dos jogadores da seleção brasileira. Após o corte de Rogério por lesão, o treinador Zagallo pediu para o músico se preparar para um treino físico para analisar como ele estaria para ser o substituto e estar entre os jogadores do Brasil no Mundial do México. 

Antes de ir para o México, a seleção brasileira se concentrou por três meses na Casa de Retiros Padre Anchieta, no bairro de São Conrado, no Rio de Janeiro. Lá, eles ficaram hospedados e iam de Kombi para os treinamentos. Um lugar de pouco luxo, mas de muita tranquilidade.

Essa tranquilidade foi escolhida por João Saldanha, então técnico da Seleção nas Eliminatórias. Mesmo com uma campanha tranquila, o técnico acabou dispensado apenas 78 dias antes da estreia no Mundial por conta de problemas com a imprensa e com o governo militar brasileiro.

Saldanha foi substituído por Mario Lobo Zagallo, ex-técnico do Botafogo e ex-jogador, que tinha conquistado o bicampeonato mundial vestindo a camisa verde e amarela. Do Rio de Janeiro, a Seleção foi para Guanajuato, cidade de altitude no México (a mais de 2400 metros cima do nível do mar). Para conseguir se aprimorar ainda mais na preparação física.

A preparação física era um destaque mesmo. Foram seis jogos na Copa: seis vitórias, quatro com resultados definidos no segundo tempo. Dos 19 gols marcados pela seleção, 12 saíram na metade final. E assim o Brasil foi derrotando os adversários um a um: Tchecoslováquia, Inglaterra, Romênia, Peru, Uruguai e Itália, a adversário na final.

Foto: AP
Se em 2020, só 2% dos lares brasileiros não tem uma televisão, em 1970, 24% das casas do Brasil passaram a ter. As oito Copas do Mundo anteriores tinham sido acompanhadas pelo rádio e o Mundial do México seria visto, pela primeira vez na história, ao vivo. E além disso, ainda tinha a novidade dos replays.


Mas essa viagem pela história da TV e das narrações daquela Copa fica para o dia 14. Não perca, no Esporte Espetacular do domingo que vem, a finalíssima entre Brasil e Itália, vencida por 4 a 1, a conquista da Taça Jules Rimet e uma viagem no tempo através da televisão.


Fonte: Por André Gallindo, Márcio Iannacca e Rafael Honório com Globo Esporte – Rio de Janeiro

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